A maneira como as pessoas aprendem é tão única quanto o focinho de um gato. Se você está se perguntando, não existem dois focinhos de gato exatamente iguais. Portanto, embora os alunos em sala de aula possam ser parecidos, cada um deles tem uma combinação exclusiva de experiências, pontos fortes, necessidades e interesses que afetam seus resultados de aprendizagem.
Como as salas de aula são muito diversificadas, os currículos precisam atender a essa diversidade. No entanto, na maioria das vezes, os professores precisam cumprir as mesmas metas curriculares para todos os seus alunos. Esses dois termos, “as mesmas” e “diversificadas”, quando considerados no mesmo cenário, geram inevitavelmente obstáculos e desafios a serem superados.
Acredita-se que o Design Universal para Aprendizagem (UDL, pelo termo em inglês Universal Design for Learning) é a solução para esse problema.
Em um ambiente de sala de aula tradicional, quando os alunos têm dificuldade em atingir as metas de aprendizagem esperadas, eles em geral assumem a culpa por seus maus resultados. Talvez não estudaram o suficiente ou não prestaram atenção à aula quando o professor explicou um conceito-chave ou simplesmente são preguiçosos e não estão interessados em suas próprias jornadas educacionais.
Apenas recentemente as pessoas consideraram o fato de que o currículo, e não o aluno, pode desempenhar um papel significativo nos resultados insatisfatórios. Cada sala de aula é composta por um grupo muito diversificado de indivíduos, mas ainda assim, o currículo é o mesmo para todos. Talvez, se concebêssemos o currículo como mais flexível e adaptável para atender às diversas necessidades dos alunos, os resultados de aprendizagem melhorariam para a maioria.
Essa é a ideia básica do UDL, promovida pelo pessoal da CAST (Center for Applied Special Technology), uma organização de pesquisa e desenvolvimento em educação sem fins lucrativos que trabalha para expandir as oportunidades de aprendizagem para todos os indivíduos por meio do UDL. Segundo eles, o UDL está enraizado nas ciências da aprendizagem, incluindo a neuropsicologia, o desenvolvimento humano e a pesquisa em educação.
Existem três princípios básicos do UDL. Antes de passarmos para a parte sobre como aplicá-lo em sala de aula, esses princípios precisam ser analisados. Cada um corresponde a uma parte diferente do cérebro humano que está envolvida no processo de aprendizagem, o que faz com que cada princípio afete os resultados de aprendizagem de um aluno de maneira exclusiva.
Agora que a parte teórica do UDL está clara, vamos para a parte mais complexa: a implementação. Não existe uma maneira melhor de colocar o UDL em prática, afinal de contas, como isso seria possível quando os alunos em sala de aula são tão diferentes?
A abrangência da estrutura do UDL pode sobrecarregar até mesmo os educadores mais ambiciosos. O sistema educacional tende a favorecer uma abordagem padrão única em detrimento de várias opções para dar instruções, avaliar os alunos e mantê-los motivados.
Escolas e professores que buscam criar ambientes de aprendizagem inclusivos para todos devem analisar a mudança e se preparar para uma jornada longa e turbulenta. A estrutura do UDL é complexa, e pode haver a necessidade de introduzir componentes individuais com o passar do tempo. Afinal, a mudança é um processo, e não um evento.
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O primeiro passo na implementação do UDL em sala de aula é avaliar cuidadosamente a situação atual. Você precisa estabelecer exatamente onde está o ponto de partida A se deseja planejar a jornada para o ponto desejado B. A análise da sala de aula, da escola ou até mesmo do bairro determinará as metas, identificará as prioridades e oferecerá uma ideia clara de onde começar e do que procurar.
Aqui estão alguns aspectos a serem considerados ao implementar o UDL em sala de aula. Alguns exigem orçamento e uma combinação de recursos, enquanto outros são mudanças simples que têm efeito imediato. Porém, independentemente dos detalhes, o UDL se resume em oferecer mais opções para escolher aquela que funciona melhor em um determinado ambiente.
Em uma sala de aula com UDL, deve haver espaços de trabalho flexíveis para os alunos. Diferentes atividades de aprendizagem exigem diferentes cenários. As atividades em grupo são ótimas, mas o trabalho individual também deve acontecer. Assim, a sala de aula deve incluir espaços para instruções em grupo, trabalhos em grupos pequenos e grandes e também trabalhos individuais em silêncio. Mesas com rodinhas que podem ser reorganizadas para diferentes finalidades, estantes que armazenam materiais de sala de aula e separam o resto da sala da área de silêncio ou uma mesa para construir maquetes são exemplos ótimos de móveis flexíveis.
É ótimo ter opções, mas, no final do dia, assim como no final do ano letivo, as mesmas metas curriculares devem ser cumpridas por todos os alunos. O UDL permite que a jornada em direção a essas metas corresponda às necessidades individuais dos alunos, estabelecendo metas menores e mais personalizadas ao longo do caminho. Porém, o resultado final ainda deve ser o mesmo. Quando os alunos sabem o que devem alcançar e têm um grau de escolha sobre como fazer isso, eles ficarão mais motivados a alcançar essas metas. É por isso que metas são sempre claras em uma sala de aula com UDL.
Se os alunos não conseguirem acessar informações, eles não poderão aprendê-las. Além de existirem muitos tipos de deficiências que afetam os alunos, a maioria deles apresenta dificuldade com um tipo de conteúdo enquanto tem mais facilidade com outros. Em uma sala de aula com UDL, todo o conteúdo de aprendizagem deve estar acessível para todos os tipos de alunos. Por exemplo, os alunos devem ter várias opções para ler, incluindo a leitura impressa, a digital, a conversão de texto em fala e audiolivros. Eles devem poder ampliar o texto, se necessário, ou definir a cor e o contraste da tela. Todo o conteúdo em vídeo deve ter legendas e arquivos com as transcrições de áudio
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Em uma sala de aula com UDL, há sempre mais de uma maneira de os alunos demonstrarem o que aprenderam e provarem seu domínio de novos conceitos. Uma redação ou uma planilha podem dar conta do recado. Porém, o mesmo acontece com a capacidade de criar um vídeo sobre a parte mais importante de uma lição. Telas verdes não são mais apenas para atores profissionais. Ou um podcast. Eles poderiam até mesmo ter permissão para desenhar uma história em quadrinhos. Desde que os alunos atinjam os objetivos de aprendizagem mencionados acima, eles devem poder completar vários tipos de trabalhos.
Em uma sala de aula tradicional, o principal escopo das notas é medir o desempenho, e elas são a forma mais concreta de feedback. Uma boa nota significa um bom aluno, mas uma nota ruim não significa um mau aluno. Porém, o progresso de um aluno deveria basear-se exclusivamente no desempenho em intervalos de tempo fixos e reduzidos. Com o UDL, os alunos recebem feedback com a frequência necessária, para que possam continuar sua jornada de aprendizagem na mesma direção ou fazer ajustes caso se desviem de alguma forma. Eles são incentivados a reagir às escolhas que fizeram em sala de aula e a analisar se atingiram as metas. Se não atingiram as metas, eles são incentivados a refletir sobre o que poderia tê-los ajudado a conseguir isso. E, o mais importante, as notas são consideradas ferramentas para reforçar essas metas.
O UDL não seria possível sem a tecnologia. Uma sala de aula com UDL deve ser tecnológica. É incrível a quantidade de ferramentas de tecnologia educativa, sempre há algo novo, algo melhor, algo que promete mudar o mundo educacional. Cabe a cada educador decidir qual usar. Já é um começo usar um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) com recursos de aprendizagem adaptativa, trajetórias de aprendizagem personalizadas e uma ampla variedade de tipos de avaliações. Porém, existem muitas outras ferramentas e sites que podem oferecer suporte ao UDL. A equipe da BCSC criou esta lista completa, então confira.
O Design Universal para Aprendizagem, ou UDL, é uma abordagem de ensino que visa atender às necessidades de cada aluno em sala de aula. Ele promove opções para mais aspectos da aprendizagem, desde como a instrução é ministrada até como os alunos podem demonstrar o que aprenderam, sem mencionar as várias maneiras de nutrir o interesse e a motivação em todas as atividades de aprendizagem. O UDL pode ser muito útil para alunos com problemas de aprendizagem e déficit de atenção, mas, acima de tudo, minimiza as barreiras e maximiza a aprendizagem para todos os alunos. Afinal, ao abordar as deficiências, todos nos beneficiamos.